Monday 19 January 2009

Thiago Amud sober Guinga

O que aconteceu com Guinga na Espanha, o que acontece no Brasil de Guinga

Amigos, isto aqui não passa um desabafo. Portanto, perdoem o possível desarranjo estilístico, o tom indignado e quase panfletário.
O país que expede um Guinga para ser destratado como foi pela polícia da Espanha e cuja imprensa, ao noticiar o incidente, só consegue abordá-lo em seus aspectos factuais, sem oferecer a mínima reflexão sobre o sentido profundo do que aconteceu; enfim, um país como o nosso, ou é de uma abjeção total ou, por outra, pode desperdiçar seus grandes criadores porque os tem em demasia.
Como é público e notório que há uma lacuna cada mais mais profunda na esfera da produção de conhecimento e de cultura no Brasil de hoje, deduzo que nosso país virou mesmo uma terra devastada, uma waste land (sem nada da grandeza t.s.eliotiana - quem me lê que me entenda).
Estamos hoje agonizando nas mãos dessa malta de petistas iletrados e malandros, e ainda há uma gente que finge que os índices econômicos são os únicos que merecem crédito na hora de se pensar no que está acontecendo.
O que está acontecendo é um desmonte planejado do nosso capital simbólico - e isso só vai piorar. Não estou ingenuamente denunciando um possível entreguismo aos americanos. Não quero que confundam isto aqui com rancor ufanista nem ódio anti-ianque. Não: o que está acontecendo é o resultado de um ódio arrivista contra a Inteligência, contra a mera possibilidade de o povo ascender a esferas mais altas do conhecimento e da espiritualidade. O PT, fruto de uma Teologia da Libertação que queria converter o símbolo cristão da cruz para o pão, só poderia mesmo decretar ao chegar ao poder que "só de pão vive o homem".
Hoje você não precisa mais ter a polícia do Estado descendo o cacete em você se você pensar diferente. Chegamos a um tempo em que seus amigos contribuem brandamente, entre um gole e outro de cerveja, para que a sua reputação intelectual seja ridicularizada caso você traga para o debate conhecimentos que não venham da mass midia ou que porventura choquem contra as bulas do pensamento politicamente correto.
A leitura dos jornais de massa virou parâmetro supremo de conhecimento. Um escândalo como este (produtor de gente burra, para não dizer perigosa) só pode acontecer se o fornecimento de todos os elementos sobre os quais o imaginário da nação vai trabalhar for incumbência exclusiva da mesma cultura de massas que escreve os jornais. Senão, vejamos: a novela estupidamente mal representada que encerra hoje galvanizou a elite do país inteiro por não sei quantos meses. Pergunto aos mais velhos que eu: o mesmo aconteceria há 50 anos atrás, quando vivos estavam Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, Clarice Lispector, Osman Lins, Gilberto Freyre, Gustavo Corção, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes, Otto Maria Carpeaux?
Aquela idéia segundo a qual um contato pessoal e intransferível com as grandes obras era fundante de uma personalidade forte, livre e crítica, é hoje confessadamente ridicularizada e "desconstruída" com charme afrescalhado pela maior parte do próprio stablishment acadêmico.
Acontece que quando se afasta do horizonte de um povo a noção da grandeza individualizadora e fulgurante, entra em seu lugar outro parâmetro valorativo: o quantitativo, a supremacia do número. Um campo de criação cujo apelo para a sensorialidade seja quase que total (como a música) está, deste modo, entregue à mais deslavada inversão de valores.
Não reclamo aqui da preponderância dos parâmetros rítmicos sobre os demais (até porque estes são geralmente confundidos com regularidade dançante e, desde Stravinsky e sua Sagração da Primavera, há quase 100 anos, a preponderância da rítmica não pode ser confundida com apelo dinamogênico para as massas suarem no carnaval). Não reclamo disso, repito. Reclamo, antes, do emburrecimento aplaudido pelas "elites intelectuais" como sendo uma legítima forma de auto-gestão das periferias. Não são, não! São miséria, pobreza simbólica, estreitamento. Senão, vejamos: comparem qualquer disco de Clementina de Jesus com qualquer disco do É o Tchan e chegem às conclusões vocês mesmos. Clementina era hierática onde É o Tchan é vulgar. Antropologicamente são ambos fenômenos interessantes e válidos, mas quem disse que a adoção dos parâmetros antropológicos deve ser irrestrita? Qualquer discurso é um recorte sobre uma massa total de fatos. E se o meu recorte for, por exemplo, o lírico-cristão (como era o de Nelson Cavaquinho)? E se o meu viés for épico-cristão (como o de Elomar)? Estarei automaticamente banido dessa festa de sentidos em que o trem desembestado da cultura brasileira contemporânea se transformou (um trem que parece ser "o espírito de uma época" mas que na verdade é guiado por algumas dúzias de senhores e senhoras da USP, da PUC, das grandes gravadoras, produtoras e editoras e das redações dos principais suplementos culturais - com excessões raras).
O materialismo é uma doutrina que serve de cangalha para os brutos. Como esses homens carecem de senso de unidade lógica, já que vivem perdidos no trânsito exaustivo entre entes que eles, materialistas, suspeitam ter raiz em si mesmos; como esses mesmos homens vivem acreditando na existência de relações mais abstratas do que qualquer Deus concebido por qualquer religião, esses mesmíssimos homens, embrutecidos, encontram a unidade perdida na doutrina materialista.
A tradução de todo o debate cultural para os termos da antropologia é responsável pelo alastramento de um relativismo cínico, amoralista, nerd e urbanóide que, francamente, a mim não assusta, porque eu estou mais do que vacinado pessoalmente contra esse câncer. No entanto, mesmo não podendo me destruir espiritualmente, essa praga vai ameaçar seriamente as condições de sustentação do meu projeto nestas terras, como aliás, tem praticamente inviabilizado o projeto de diversos artistas, de meu conhecimento, que têm senso de grandeza e honestidade intelectual.
Então, reparem: este texto não é sobre o que Guinga sofreu na Espanha. Mas sim sobre as condições que predeterminaram que a humilhação de um de nossos grandes artistas não signifique mais nada além de um mero incidente diplomático.
Cordialmente,
Thiago Amud.

Monday 1 December 2008

Pulp Fortress

Friday 29 August 2008

Friday 8 August 2008

Um final de semana garantido


Acabei de receber isso. O final de semana será bom :)

Thursday 10 April 2008

Friday 28 March 2008

MAD de volta ao Brasil

Um momento nostalgia para mim. Eu comprava esse lixo constantemente e depois que parei de comprar ela foi sumindo e sumindo e sumiu. Sim, meu ego inflado me diz: a culpa foi toda minha. Mas eis que a editora Panini vem ao resgate e vai relançar a revista no país, com o Ota incluso !! (aliás, se a Panini soubesse trabalhar melhor seu negócio na Internet seria uma grande editora. O site deles é uma merda, pra variar.)

Estava com saudades do Aragonés, Spy Vs Spy, etc...



Wednesday 26 March 2008